Self dialógico




Mulher ao espelho, Picasso

Freud certamente viu essa obra. Picasso não necessariamente estudou psicanálise. Ou vice-versa. Todavia, ela dialoga com o mundo, com o meu eu, o self. Uma mulher que se vê refletida através do espelho nem sempre imagina a infinitude de nuanças que podem ser geradas. E, ainda, se for pintada em outra época, na mesma vida, já não será a mesma mulher; tão pouco as possibilidades no reflexo serão as mesmas. Picasso conseguiu aglutinar exponencialmente os sentidos do ser em um só quadro. A beleza da mulher está na arte. A contribuição do Freud está no self, aquela essência pessoal. Eu prefiro a maneira como William James o definiu: self dialógico. O "eu" pode ser construído ao passar do tempo, com o acúmulo de vivências e experiências que se sucedem, não é estático. Tudo o que absorvemos nos transforma em algum viés. Uma pessoa que muda de opinião não está necessariamente se contradizendo, mas sim agindo em conformidade com o dialogismo do seu self, permitindo a interferência externa naquilo que acredita não estar pronto e que, portanto, precisa ser alterado, carece de pinceladas. Em Freud, as ideias; em James, o conceito; em Picasso, a tradução; em nós, admiração, reflexão, criação, transformação.

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