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Mostrando postagens de 2009

Not allowed

She knew it was going to hurt. Deeply lot. Even though, she had to go till the end, to see with her own afraid eyes, trying not to create another fake painless truth to belive while her heart was stuck into a glass bottle without wine. It was too damn hard to uncover the feelings and expose them in the sunshine, thinking of everything that could have been but wasn't. An impossible unbreak. A lost "if". Besides that, she was only able to smell the past one more time and the moment was frozen. Sweet fucking memory. However, Beethoven said it has to be like this, it has to be. Ok then – she realized with no other choices. So she light up a cigarette and says hello to her old friend Darkness.

Je est un autre

Moi aussi.

From me or for me?

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It's like preparing gifts: to creat an original and personal little special part of yourself to give someone you love. You let it go and keep watching like it was a sheap crossing the ocean, thinking it worths, trying not to feel less you but more in touch with life. Like you were reading a book and found the poetry that can never leave your heart. I always think of you. It's wonderful to have a friend on the other side of the world. A piece of me that doesn't have to be with me all the time to make me feel remembered. It's been such a growth. I really appreciate it.

Banalidades

Dia improdutivo de chuva. Alimentando meu ódio, quase ira de Aquiles. E desde às 5h45 ele insistia em começar, continuar. Como? O óscio que te impede de pensar, o cansaço, única voz que ecoa grave o suficiente para ser sentida por todas as células do corpo. Textos mal escritos, arrependimentos, indecisões, equívocos. To do list aumentado, não cessa. Algumas caixas de Pandora persistindo pelo caminho, momentos que se perdem quando se está distraído ou preocupado em lamentar o passado, o futuro. Tempo perdido, tempo perdido. Não será possível se permitir esquecer de viver? É só um dia, só mais um. Posso? E ver que o mundo lá fora continua, mas eu aqui dentro não. Não. Nada muda.

Ela, silêncio

Percorria tudo com os olhos, o quanto podia, atentamente. Sabia que o tempo seria curto, que ali haveria muito a ser descoberto, aos poucos, talvez, ou nunca. Porque uma variedade de minúcias estava diante de si, mal sabia por onde começar. Arte no ar. As fotos dos autores e cineastas preferidos, pinturas que acalmam a alma, filmes que mudam histórias, e os livros... Este era o retrato de uma personalidade que, mesmo outrora hesitando em ser revelada, não conseguia esconder os traços marcantes e delineadores que lhe são exclusivos. Porque a arte, quando absorvida, passa a fazer parte de nós, dela em especial. E ainda, aquela mesinha cheia de lembranças, carinhosamente apelidada por mim o cantinho da delicadeza. Rastros do além-mar, objetos os mais inusitados. Foi ali que me encontrei. Literalmente. Havia um pedacinho meu. Quanta delicadeza a dela. Tudo o mais era branco, o chão era um labirinto, o vazio parecia preenchido, tal qual era ela, a linha tênue entre o inatingível e o infinit

Minha vida é andar... por este país

Procurando singelas casinhas ainda chamadas de lar , sem muros, sem portões, apenas um carro no pequenino quintal da frente e um canteiro de jardim, com terra da terra, plantas sem cheiro e alguns caramujos , uma casinha com histórias pra contar, onde crianças viraram adultas e as lembranças estão estampadas na parede de tinta gasta, aquela detrás da fachada rústica, com pedras que guardam a moradora, uma simpática senhora que exala juventude, não mede esforços em transmitir seu vasto conhecimento e, satisfatoriamente, abre as portas de seu significativo lar aos interessados em ouvi-la e descobrir o verdadeiro valor da literatura créole , na companhia de um perfumado café feito em coador de pano na cozinha cor-de-rosa aos fundos da casa (ao lado de um condomínio de segurança máxima).

Butterfly chaser

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Almost breathless. Trying to feel some fresh breeze while time runs out and weather becomes unusually hotter. It was hard to realise that I'm completly alone, totaly by myself in this crazy and meaningless world. My heart aches, my head shakes and my feet can't touch the ground anymore. The pain increases with the sound of this lovely and sad music, with this wonderful and dirty view, full of unhappy people. Poorly loneliness. But than, I remember you. Beyond Art, God or Nature. Even Literature. My beautiful and ilusory Freedom.

De tudo o que poderia ter sido

Meu blog deveria ser preto. Letras acinzentadas, fotos obscuras, palavras difíceis, temas complexos, escritas profundas. Desconexões, sutilezas, non-understanding signs, non-sense subjects, non-reading words, non-meaning means. Decodificações, mensagens subliminares, revoluções pós-modernas, arrepios indesejáveis, filosofias perturbadores, questões de teor altamente questionável, censurável, inqualificável. Minhas roupas deveriam ser pretas. Eu deveria ser careca. Minha vida deveria ser prontamente finita.

Le petit little prince

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Hoje estive no planetinha do pequeno príncipe. Foi uma viagem e tanto. Meu coração ficou cansado. Foram muitas aquarelas, carneirinhos e homens voltando a ser meninos. As flores são mesmo contraditórias, belas e espinhosas, sublimes e vaidosas. Ah! petit prince, j'ai compris, peu à peu, ainsi, ta petite vie mélancolique . O asteroide B612 é suficiente: uma rosa, estrelas, vulcões e pôr do sol. Para quem viaja, as estrelas são guias. Isso quem me disse foi o Exupéry, não o pequeno príncipe. Ele gostava tanto de viajar que queria ser piloto pra poder voar o mundo todo. E voou. Viu até baobás. E desenhava, escrevia, inventava, vivia. E dizia que só as crianças poderiam encontrar uma solução para os problemas da humanidade, uma forma de cessar a guerra. Afinal, são mesmo tolos os homens, esquecem que já foram crianças. Mas o principezinho é tão sabido, suas experiências são tão intensas, suas histórias são tão envolventes que nos basta conhecê-las para entender, não precisamos saber c

Eu quero uma casa no campo

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Elis Regina (Clipe original - 1972)

L’argent de la saison dernière

Pas un désir capitaliste, évidemment, ni une action délibérée. Pas une dette à payer ou en retard. C’est un oubli qui a trouvé dans une surprise. C’est l’hiver. Le dimanche est pluvieuse, plein de café. On veut aller à la boulangerie pour acheter de fromage, des croissants, des profiteroles, mais le temps est mauvais. L’argent reste dans la poche et on boit seulement de café noir. Il est très froid, donc on allume la cheminée et la maison devient chaud. On enlève le manteau et l’argent est ainsi dans la poche. L’autre-temps, c’est déjà le printemps. Les oiseaux sont bleus, jolis. Les arbres dans la rue ont beaucoup de fleurs. Un beau dimanche ensoleillé on décide de laver les vêtements. Tous les manteaux d’hiver qui sont fermés dans le garde-robe il y a plus un mois doit être lavés. Quand on révise la poche du premier, on trouve deux notes de 20 reais. Qu’est-ce que fait ici cet argent? Le souvenir des jours anciens apparaît. Le bon et froid hiver a laissé un souvenir. Le plaisir d’avo

Meu segredinho

A vida é um segredo segredo não secreto sagrado. Viver não é segregar tão pouco segredar sonhar. Viver é voar! é não saber da vida é só saber estar.

Modernidade?

A doçura que envolve e o prazer que assassina. O século XIX: "transformação verdadeira a partir de uma ruptura consigo mesmo". Paris dos boulevares, London, Lisbon revisited. No carrefour da ausência de heroísmos e da ideologia revolucionária: Baudelaire e Cesário Verde. Sobreposição de opostos, rompimento de expectativas, estratégia imagética, ironia, metáfora, uma cidade passante. O grotesco, o positivismo lírico, o convívio entre o racional e o emocional. Ah, sim, o preciosismo da composição, a arte pela arte, a negação do estereótipo belo. Se Baudelaire diria que em Paris cabe o mundo inteiro menos os poetas, Cesário Verde também não cabe na Lisboa do século XIX. A individualidade dissolvida na multidão. Efeitos da modernidade. Poemas: As flores do mal , de Charles Baudelaire. Frígida , Esplêndida , Vaidosa e Setentrional , de Cesário Verde.

On pourrait presque réfléchir

Le jour vient de commencer, on est déjà fatigué. Se réveiller très tôt le matin, s’habiller très vite, parfois prendre le petit déjeuner - quand le sommeil ne nous retarde pas - et aller au travail, soit chaud, soit froid. Le premier autobus est si plein de gens, on attend... le deuxième aussi plein ou plus, le troisième... On regarde l’heure, il n’y a pas de chance, il faut prendre l’autobus! Bien, on y va avec beaucoup d’effort et enfin on arrive. Oui, on arrive au métro, où commence la deuxiéme battaille de la journée: essayer d’en entrer. Au travail, tout peut être bien passé. Ou non. Mais il faut continuer. Puis, on va à l'université où il faut penser, écrire, parler... Parfois c’est impossible, on est si fatigué, il y a autant de chose dans la tête, engagements, tâches, préoccupations. Alors, c’est l’heure de partir. Commence la bataille de retourner à la maison. Il est déjà minuit et finalement on arrive. Ah! Presque agréable cette sensation. Les parents dorment déjà. On est

A um passante

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Ou, aos que passam por nós correndo. Porque - já dizia meu poeta - a vida é a arte do encontro... embora haja tantos desencontros pela vida!

O que será que me dá?

Queima por dentro. Perturba a alma. Faz suspirar. As palavras seriam insuficientes e, paradoxalmente, o melhor modo de exprimir a inquietação. À flor da pele. Não consigo encontrá-las. Para onde foram? Vazio no peito.

Je m'appelle Elisabeth

Até às 23h45 de ontem, Die Welle (A Onda) teria sido um dos melhores filmes que vi este ano. Fico extremamente vulnerável à vulnerabilidade medíocre do ser humano –— categoria na qual certamente me incluo. O inestimável poder de uma ideologia bem articulada, na qual todos possam se ver refletidos e acolhidos, revela uma assustadora percepção da (im)previsibilidade humana. Infinitas lacunas a serem preenchidas com o vazio. Haro, a personagem "rebelde", quase poderia ser meu novo ídolo, não fosse pelo acaso inusitado de um filme que veio até mim e persistiu, sem esforços, em ocupar o primeiro lugar do meu ranking anual de cinema. Betty, uma encantadora menina de 10 anos, me fez recuperar algumas sensações outrora perdidas em meio à insanidade subjetiva do doloroso viver. Sei que a sua dor não pode ser a mesma que a minha, Fernando Pessoa já me disse, mas sinto-a com tamanha intensidade que não há de ser fingimento. A criança e o louco, talvez os maiores sábios da vida. Eu me

Utopia

O neoliberalismo nada mais é do que a resposta a um momento político-social do Estado em crise, já que a ideologia capitalista não tinha mais o vigor necessário para apaziguar, entre outras, as pressões reivindicativas do movimento operário. Contudo, mais do que uma manobra política torpe e corrosiva, o neoliberalismo invadiu países dos quatro cantos do mundo porque foi sustentado por uma ideologia hegemônica, ambiciosa e disfarçadamente autoritária, capaz de disseminar a ideia de que “não há alternativas para os seus princípios”. É, parece que hoje a consciência social pende para outro viés. A desigualdade deixou de ser um valor positivo ideologicamente; a saga do movimento operário finalmente colhe frutos: o PT está no poder. Apesar de “avacalhado”, o neoliberalismo e sua pregação anti-social sofreram ataques que indicaram o “estado de avanço das organizações da sociedade civil”. Agora, mesmo com os opositores no comando – como quase podiam prever os historiadores –, vemos os sin

Desassossegada

Há um cansaço da inteligência abstracta, e é o mais horroroso dos cansaços. Não pesa como o cansaço do corpo, nem inquieta como o cansaço do conhecimento pela emoção. É um peso da consciência do mundo, um não poder respirar com a alma. Então, como se o vento nelas desse, e fossem nuvens, todas as ideias em que temos sentido a vida, todas as ambições e desígnios em que temos fundado a espança na continuação dela, se rasgam, se abrem, se afastam tornadas cinzas de nevoeiros, farrapos do que não foi nem poderia ser. E por detrás da derrota surge pura a solidão negra e implacável do céu deserto e estrelado. O mistério da vida dói-nos e apavora-nos de muitos modos. Umas vezes vem sobre nós como um fantasma sem forma, e a alma treme com o pior dos medos — a da encarnação disforme do não-ser. Outras vezes está atrás de nós, visível só quando nos não voltamos para ver, e é a verdade toda no seu horror profundíssimo de a desconhecermos. O Livro do Desassossego, Bernardo Soares por Fernando

Self dialógico

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Mulher ao espelho , Picasso Freud certamente viu essa obra. Picasso não necessariamente estudou psicanálise. Ou vice-versa. Todavia, ela dialoga com o mundo, com o meu eu, o self . Uma mulher que se vê refletida através do espelho nem sempre imagina a infinitude de nuanças que podem ser geradas. E, ainda, se for pintada em outra época, na mesma vida, já não será a mesma mulher; tão pouco as possibilidades no reflexo serão as mesmas. Picasso conseguiu aglutinar exponencialmente os sentidos do ser em um só quadro. A beleza da mulher está na arte. A contribuição do Freud está no self, aquela essência pessoal. Eu prefiro a maneira como William James o definiu: self dialógico . O "eu" pode ser construído ao passar do tempo, com o acúmulo de vivências e experiências que se sucedem, não é estático. Tudo o que absorvemos nos transforma em algum viés. Uma pessoa que muda de opinião não está necessariamente se contradizendo, mas sim agindo em conformidade com o dialogismo do seu s

All over the world

If love is all we need, why it isn't easier? Maybe it's too big to feet our hearts. I want to spread it through over the world. Step on the road, to the sea, to the sky. Dreaming with no pain, but living the game. Nor happy, nor sad, just trying to be always in love, even when we need more than that.

Presente de mãe

Ela sempre tem razão; sempre age com o coração. — Mas por que, filha? Ela gosta das perguntas difíceis, nunca contente com meias palavras. Um canto e um encanto. Era simples. Sapatilhas de bailarina, sons de alma em chama, beleza de arco-íris, pauta de poesia, sopros de esperança, tons de melancolia, melodia do meu ser. Era assim. Parece não entender; não sabe mais questionar. Sem mais, sem menos: — Esta será somente sua, companheira na solidão, acalanto para a dor, trilha para sonhar. Ela sabe que só se pode ver bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos. Era simples assim. Para flautear choros de alegria! Magic Flute - Mozart

Uma lição de Reis

Em meio a alguns versos de meia regularidade, depois de uma deliberação abstrata dotada de um purismo exagerado, eis o nosso discípulo-quase-mestre: Natureza. Entende-se o caráter efêmero da vida e nada resta senão aceitá-lo. Sem aborrecimentos, sem lembranças. Conformidade. Valorizar o aspecto cíclico da vida, aproveitar a aurora, admirar as folhas na primavera e despedir-se delas no outono. Epicurismo. Ponto de equilíbrio, sem exagero de emoção, sem cansaço. Não se escapa da hora fugitiva . O que pensamos, seja amor ou deuses, passa porque passamos. No rio das coisas. Bebendo a goles os instantes frescos. O que é sério pouco importe, o grave pouco pese, porque o que levamos desta vida é inútil.   Apenas a memória de um jogo bem jogado.

Lula de novo?

A falta de decência na política brasileira atingiu limites desumanos. A ideia de um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da maneira como foi exposta por algumas mídias, é a afirmação dessa assertiva: alguns políticos defendem essa ideia com o único objetivo de manter sua participação no governo, assim, podem asseguar suas vantagens e privilégios. Para garantir seus interesses eles são até capazes de achar algo positivo num câncer linfático, já que a enfermidade da ministra Dilma Rousseff não passa de uma oportunidade para defenderem o terceiro mandato de Lula, que parece já ter esgotado sua fonte de boas ideias.

Penetra surdamente...

No reino das palavras o impossível só depende da verossimilhança pra acontecer.

A saga (eterna) da semana passada

A incessante busca pelo mundo continua. Furtos cá e lá. Mas o que é melhor: uma felicidade barata ou um sofrimento elevado? indagou Dostoiévski em Mika Lins numa sexta inusitada. Morrer de dores ou de amores? a amiga num sábado vazio. A existência é finda e o que devemos, pois, fazer dela? Kafka num domingo sombrio. O amor do traidor é capaz de resistir à sua própria traição? Heitor Dahlia em uma segunda à deriva. Se a alma é imoral, por que o corpo também não o é? Nilton Bonder na voz de Clarice em uma terça agradável. Princípios e ética ou sobrevivência? a amiga advogada numa quarta saudosa. A literatura precisa mesmo se exibir? Chico Buarque em José Costa numa quinta amarela. Até onde se sustenta a necessidade de socialização? uma nova amiga numa sexta festiva. E mais: risos e esquecimento, Décio Pignatari, Clarice Lispector, Radiohead, Depeche Mode, prosas de boteco, protestos, notícias do lá fora... Assim, a busca não há de cessar - e as vivências cada vez mais se intens

Sufocada

Às vezes a poesia não basta. Não basta porque não é finita. E nós somos. Às vezes a imensidão do ser humano transforma-se em nada. Atormentada, esvazia-se. Às vezes, sempre. Nunca calada. O nada não basta. Não passa, não para.

(Mais) um eu perdido

Abriu os olhos para a manhã chuvosa. Quis fechá-los novamente. Desejava nunca tê-los aberto. Afinal, por que abri-los se não podia enxergar? Começava a perceber sua infinita insignificância. Apenas uma, nada, tanto faz. E um mundo inteiro lá fora, de braços abertos, esperando uma alma corajosa penetrá-lo além do tempo. O tempo vívido, insensato, voraz. A rotina quase lhe impedia de respirar. Queria pensar, mas não podia. Certa vez nem mesmo queria, seria assaz doloroso. De repente, cansa. Livros, revistas, sites, filmes, teatros, artes, paisagens, viagens, pessoas, filosofias, informação, reflexão, paixão. Queria tudo e mais um pouco, dotada de um sentimento de incompletude. A desilusão de não poder. O biopoder apoderando-se em si. O "si", sempre impotente, fica em casa enquanto ela sai pra trabalhar. Mais uma. Esforça-se para admirar as pequenas coisas em meio a tanta irritação, frustração. A incessante busca pela sensação de estar vivendo. Medo de perder tempo. Receio de de

À la recherche

Depuis que tu es parti je suis triste Plus que triste: une autre Plus triste: seule. Depuis que tu es parti je veux le monde Plus que le monde: moi Plus moi: toi. The Velvet Underground - Pale Blue Eyes

Beleza, por Milo Manara

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"A beleza é um conceito difícil de explicar, pelo menos para mim. Mas vamos usar como exemplo um quadro muito famoso de Van Gogh, Os Comedores de Batata . A cena representa uma situação de extrema pobreza e miséria. Os personagens têm corpos representados com bastante feiura, deformados por um trabalho muito rígido. Estão vestidos com trapos e sua mesa miserável é iluminada com a luz vívida de um lampião. Os tons são escuros e esverdeados, tudo menos belos. Por quê? Vamos pegar outro exemplo. Existe um quadrinho muito famoso chamado Maus , de Art Spiegelman. Ele conta a história terrível do holocausto dos judeus nos campos de extermínio. Para contar aquela história, Spiegelman usou animais no lugar de humanos, fazendo com que ela parecesse ainda mais atroz. Os judeus são representados como ratos e os agentes da SS como gatos. Mas não são gatos e ratos desenhados como Walt Disney faria, o desenho é sujo, estranho, sem nenhuma elegância, e nós ainda dizemos que é um quadro belíssimo

Chuva em Jorge Amado

Proust e Flaubert não conheceram a Bahia. Talvez por isso eles tenham sido escolhidos para me acompanhar. Férias na terra do axé me lembram Bandeira em Pasárgada. Acarajé, tapioca, creme de cupuaçu, suco de cajá, doce de banana da terra, capeta, casquinha de siri, moqueca, picolés. Uma nova fonética se abre aos ouvidos; tentações ao paladar. E de que valem Proust e Flaubert na terra de Jorge Amado? Espera-se um tempo de sol, bonito, aberto, feliz. No entanto, a tristeza consegue contagiar até mesmo a Bahia. Foi trazida pelos franceses. Ainda assim, encontra-se um aconchego no Restaurante Gabriela, em frente ao Bar do Vesúvio, entre o mar e a catedral. No país do carnaval, na Bahia de todos os santos e tantas Gabrielas, Tietas, flores, tantos sertões, maridos, orixás, um poeta abre as portas de sua casa para receber os passantes. Fugidos da chuva, escondem-se sob o teto amarelo e descobrem na Bahia um pedacinho de cultura. Cultura do povo, proveniente da sorte. Sorte trazida pelo acaso

Lembrança de Itacaré-BA

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O inspetor não gostava de viajar. Queria ter uma rotina, ver sempre as mesmas pessoas, sentir-se confortável com seu eu-comum, sem ter que lidar com o desconhecido. Porém a profissão lhe obrigara a viajar constantemente. Conheceu o Barão e então a viagem fez sentido. ( O Barão , Branquinho da Fonseca). Há quem viaje para esclarecer a sensação de pertencimento ao mundo, para se encontrar no outro, para sentir que está compartilhando a vida com o todo. Eu sempre gostei de viajar, mesmo sem saber ao certo a razão. Gosto de me sentir próxima da minha família em nossas viagens de férias; gosto de descobrir diferentes modos de vida, de entrar em contato com o "eu" ao longe e senti-lo perto. Gosto de me surpreender! Sinto-me, todavia, estranha. Não pertenço a esse lugar. Também não pertenço à minha casa, nem à minha terra. Tão pouco me pertenço. O que eu vim buscar aqui, afinal? Fugir da minha vida, sim, me agrada. Mas gostaria, acima de tudo, de fugir de mim mesma. Outrar-me. It