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Mostrando postagens de 2010

Há Sempre Um Copo de Mar para o Homem Navegar

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A 29ª Bienal de Arte estava muito rica e estimulante. Eu acompanhei as três edições anteriores do evento e achei que esta foi   a melhor, tanto pela diversidade e qualidade das obras, quanto pela curadoria e pela polêmica causada acerca do verdadeiro valor da arte contemporânea na nossa sociedade. É claro que, quando falamos em arte contemporânea, é impossível não citar grandes e renomados nomes como Gil Vicente, Cildo Meireles e até o famoso cineasta francês Jean-Luc Godard, este que também marcou crucial presença na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e sempre leva o público a profundas e inquietantes reflexões. A obra do Cildo, em especial, que entrou para a minha lista de favoritas foi uma que não está na edição da Bienal deste ano, mas apenas por intermédio das reflexões que me foram proporcionadas na Bienal de 2010 é que pude “resgatá-la” do MOMA, Nova York, e trazê-la para cá: Imagem: Paulo Bruscky - BlogArte As obras das garrafas de coca-cola e do “Quem mat

Proust e seu livro

De certo o sabia, quem viveu com a vida e a obra emaranhadas, que viveu fazendo-as, refazendo-as, elastecendo-a em tempo e páginas, que vestiu sua obra, por dentro, percorrendo-a, viajando em seu barco, decerto viu que um dia acabá-la era matar-se em livro, suicidá-lo. (João Cabral de Melo Neto, Museu de tudo )

À la Baudelaire

A morte é o fim. Não é Deus, nem o amor. Somente a morte. As tentativas de evasão, sejam no mundo superficial da modernidade, sejam nos paraísos artificiais, são apenas tentativas. Fazer da feiura uma estética para alimentar o prazer de desagradar a aristocracia é magia verbal, imaginação criadora, paradoxo com idealidade vazia. O conflito da existência só se exprime, pois, com a contradição da poesia.

Para um novo ano

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Existe um imenso infinito através do muro.

intensamente

O passado insolúvel na memória remoto, distante, fugaz... Talvez efêmero, marca irrisória. Indelicada ilusão insiste em perdurar Nem todo o sentimento seria assaz. A espera cansativa e promissória despedaçar ja não faz E transforma-se, enfim, num motivo para suspirar.

Inquietação constante

O que podemos ser além daquilo que somos?

Envelhecer

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Estão juntos desde a juventude, tempo em que ainda não tinham conquistas, apenas sonhos e ambições. Tempo em que se paquerava na pracinha da cidade, tomando gelinho em frente ao coreto. Tempo em que quase não se viam carros. Tempo em que meninos e meninas não se misturavam na escola. Será que podiam prever o que o futuro lhes reservava? Eles se admiravam e estavam dispostos a construir um futuro juntos, e isso parecia bastar. Naturalmente, surgiu o amor, embora na época os casamentos fossem, também, realizados por inúmeros outros motivos. Foram anos de estudo, depois anos de trabalho, mas nunca deixaram de viver. Percorreram o mundo todo, criaram lindos filhos, cultivaram amigos, cuidaram de seu refúgio no campo tanto quanto do corpo e da mente. Hoje, o aconchego do lar, a coleção de leituras na estante e na mente, filmes quase todos, a Internet como aliada, a família distante e reunida, a satisfação de compartilhar a sabedoria com o jovem e a proeza de se permitir pequenas futilidade

Por não estarem distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quan

Eu, lua

Mais uma despedida dolorosa. Ele, no ônibus: E dessa vez ela nem estava tão cheia como nos verdadeiros romances, mas mesmo assim tirou-me o sono e me fez acompanhá-la por toda a noite, que não era clara e sim cheia de nuvens, o que a deixava invisível por algum tempo, mas um mero feixe de luz que aparecesse alimentava uma enorme esperança dentro de mim e me dava forças para esperá-la. Mesmo que tivesse de ver o sol por dois meses, eu sabia que de algum jeito ela voltaria, minguante, cheia, mas me assustava o fato de existir a possibilidade do seu retorno como “nova”, não me deixando vê-la novamente, e seu possível desaparecimento acabaria com meu céu. Então ela finalmente voltou, dessa vez com um algo a mais, e eu sentia que essa noite de lua cheia poderia durar pra sempre, mesmo em tempos nublados. Essa lua desperta meus melhores sonhos e minhas melhores qualidades, me faz ser cauteloso e pensativo, é com ela que eu cresço e me fortaleço e agora eu sei que aqui, em Paris ou em qualq

Sobre os escritos no meio do caminho

Gosto de pessoas que escrevem bem porque, para atingirem tamanha proeza significa que, além de terem passado por experiências marcantes (que mudam a própria vida e podem, também, mudar a do outro), elas leem. E leem muito. E eu gosto de pessoas que leem porque elas são perigosas. O perigo está na desconstrução de limites, quando a imaginação torna-se um ideal mais paupável que uma ideologia qualquer. E essas pessoas, ah, como eu me identifico com elas! Vivem tudo o que podem viver, mas quando não conseguem atingir tamanha intensidade, elas simplesmente imaginam um texto, um texto da vida. Então basta escrevê-lo para continuar vivendo e, mais do que isso, compartilhar um pedaço de suas vidas com os outros muitos curiosos que têm sede de mundo.

Apenas um fim

Escovou os dentes como nunca escovara antes. Olhava atentamente, talvez pela primeira vez, para a única parte óssea externa em seu corpo. Fazia força, comprimia a escova como se quisesse desgastar as cerdas todas por completo. Seria a última vez que escovaria os dentes ali, olhando-se naquele espelho. O que ela tanto sonhara em ter – e teve – seria, agora, parte do passado. Um passado que ela deixaria fisicamente para trás – não havia escolha – mas que nunca deixaria de fazer parte dela. Queria ter a satisfatória sensação de ter vivido tudo o que lhe coube, intensamente, condensada naquele último instante em que aprendera a escovar os dentes, e só. Havia apenas uma última pitada de pasta, então pressionou o tubo com toda a força que podia juntar entre as pontas dos dedos para gastar aquele restinho de pasta de dente que hesitava em sair. E hesitava porque, depois de gasta, se nada sobrasse, viraria lixo, seria descartada, junto com a escova de cerdas gastas, e não poderia mais fazer pa

Da minha vontade de desbravar o Leste Europeu

Terei eu nascido para me tornar uma carpideira? Quero cantar os festins Os bosques alegres nos quais nos introduzia Shakespeare Deixai Aos poetas um instante de alegria Senão vosso mundo perecerá (Czeslaw Milosz, poeta e ensaísta polonês)

Chez Polaert

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O caminho para a saudade.

Um parêntese no suicídio

Urashima Taro era um pobre pescador que um dia salvou uma tartaruga. Essa, como prêmio, levou-o para morar em um reino nas profundezas do mar. Lá ficou o pescador, por um certo tempo. Embora feliz no luxuoso reino, sentiu saudade de sua terra natal, de seus amigos, de sua vidinha de pescador: encontrou-se deslocado, numa condição de anomia . Foi então que Uroshima Taro pediu para voltar. Ao partir, recebeu uma arca de presente, com a recomendação de não abri-la durante o trajeto. Quando chegou à sua cidade, não a reconheceu e descobriu que há muitos anos havia desaparecido um pescador chamado Urashima Taro. Depois dessa descoberta, foi para a beira do mar e, já que ele não tinha mais nada, resolveu abrir a arca. Ao fazê-lo, uma fumaça saiu e ele envelheceu rapidamente.

Arte, amor?

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                                     Chagall no MASP Perguntaram ao Chagall o que era mais importante na vida: — O amor. Quando se tem uma mulher para amar, não é preciso mais nada.

títulos ao ar

O branco da neve no topo dos Alpes se confunde com as nuvens. Tão perto e tão distante. É preciso estar no alto para perceber que eles nem ao menos se tocam, embora, sob alguns ângulos, pareçam ser um só. Branco . O sol que reflete na neve a deixa mais luminosa, viva, acesa. O sol consegue o fogo da neve, enquanto as nuvens ficam ofuscadas, turvas, fazem o papel de sombra do sol. Elas devem achar injusto ter de dividir o branco da neve com ele e correr o risco de perder essa proximidade tão distante que há entre eles. Porém, as nuvens precisam do sol, afinal sem ele não haveria sombra e é essa sombra que permite conservar o brilho do sol só para a neve, lá no topo, logo ali. Apesar disso, ela não derrete; é gelo, pedra. Derreter seria voltar ao seu estado inicial, regredir. Isso é tudo o que a neve não quer, pois agora que ela conseguiu chegar ao topo e ver o sol por si mesma, usufruir de sua luz e tornar-se parte dela, ela não pode simplesmente escorrer montanha abaixo, esse percurso

Driving in London city

Remember to keep the left side of the road... KEEP THE LEFT, KEEP THE LEFT!!!

Le retour

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René Magritte au Musée Magritte, Bruxelles Era exatamente isso o que eu queria dizer!

Encontros

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Je n'ai que le silence pour écouter... Da ilha de Frioul eu posso avistar Marseille. Imagino que neste momento há pessoas espalhando sua gentileza por lá. E aqui, não se veem passantes. Alguns barcos ao fundo e a maré que se encarrega de acompanhá-los compõem uma pequena parcela da paisagem. Entre rochedos, penetro rumo ao infinito, guiada pelo som dos pássaros. O vento acaricia meus labios, me conforta e me impulsiona ao longe. Percebo que não estou totalmente sozinha, tenho a natureza para testemunhar minha transformação. Imensa. O frio se instala em minhas veias e, paradoxalmente, aquece meu coração. Vejo a sombra das minhas asas não mais hesitantes, não mais temem o desconhecido, aprendem com ele. As palavras surgem na minha mente em forma de texto e eu as desorganizo quando escrevo. Sinto-me um Baudelaire fora da multidão: Les parfums, les couleurs et les sons se répondent. "— Não, não espere por mim. Viva o quanto puder, onde houver vida, onde você es

Je vais et je reviens

"tu rigoles maman, tu rigoles", a dit le petit garçon à la Gare St. Lazare. Les oiseux sont presque partout et il essaye de les suivre. ça ne semble pas drôle pour les autres. Mais le garçon, il sait déjà que la vie est pleine des choses simples, parfois bizarres ou non rigolantes, donc il faut quand même trouver un sens, un moyen pour se faire sourrir, s'amuser en regardant les petites bestioles qu'arrivent de temps en temps et on ne se rend pas compte. Le garçon a très envie de voyager, je le sais. il suit l'oiseux parce qu'il veut voler autour du monde, chercher l'impossible, connaître ses propres autres "êtres" qui sont cachés dans quelque part. Il est vendredi aprés-midi, il fait -3°C dehors. Je pourrais être le petit garçon, pourtant aujourd'hui je suis le petit oiseux.

C'est dômage!

— Tu n'as pas l'accent français... — C'est parce que je ne suis pas française, je suis brésiliènne. — Ah bon! et tu parles très bien le français. J'ai connu un brésilien qui ne parlait que l'espagnol et l'anglais. — Alors, il n'était pas brésilien du tout. La seule langue maternelle et oficielle au Brésil c'est le portugais. — Non! Pas l'espagnol? Ni anglais? — Bah oui, c'est vrai! [c'est toujours comme ça] — Et tu vas rester ici pendant toute la durée du cours? — Non, seulement 1 mois, alors il faut voyager quand même. — C'est dômage!

Un taxi haïtien

Oui, j'aime les soirées mais j'aime bien dormir aussi... Fui aconselhada a ir em uma balada francesa. Tá, eu topo! Em São Paulo eu só tenho ido a baladas rock'n'roll ou GLSBTTTXYZ, mas na França vale tudo e mais um pouco. Tenho uma amiga que mora em Porte de Clignancourt ( banlieu de Paris = periferia), porém, para quem é da ZL, ça va . Lá fui eu, sozinha, sem portable ou mesmo números de telefone anotados (ba aa d idea ) e, ah!, sem o endereço também. Ela me esperava com crêpes e vinho para esquentar a soirée . 1 hora e 15 min. de metrô depois, desci da gare e logo comecei a perguntar pelo CROUS, o prédio da residência universitária. Muitos árabes, argelinos e bangladeshenses no caminho, resolvi perguntar justo pras duas mocinhas que estavam dando sopa ali na esquina. Disseram pra pegar o caminho xis e quando me virei pra fazer exatamente o contrário do que me indicaram (sotaque dificil, pô!), eis que encontro as meninas, quase mortas de preocupação, e me pergun

Notre Dame ou Sacre Cœur ?

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Um passeio em Montmartre com pit stop no Deux Moulins , muitas souvenirs e fotos com vendedores de boulangeries , fleures e marchés são apenas um detalhe. Um fulano tocando HARPA, uma missa rezada em latim, a vista da parte terrestre mais alta de Paris, folhetos em português (porque Portugal parece não pertencer à União Europeia) e a falta de um pseudo-corcunda me fazem preferir, sem dùvidas, a Sacre Cœur .

Cliché

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Se pudéssemos passar 1 minuto, apenas 1 minuto apreciando, quer dizer, em frente a cada uma das obras do Louvre, seriam necessarios 4 meses para ver todo o acervo do museu (da pra calcular quantas obras estão la?). Descobri essa informação enquanto passeava de barco pelo rio Sena e tentava prestar atenção na guia turistica enquanto a passagem deslumbrante facilmente me distraia (no pretérito perfeito, teclado francês não me permite colocar os agudos). Fui levada à parte externa do bateau mouche e meus olhos congelaram. Sim, literalmente. Tudo por uma foto bem turistica em frente a Torre Eiffel. Em meio a tanta curiosidade, voltemos ao Louvre. Era necessario escolher por onde começar... ja me contaram diferentes impressões da Monna Lisa , claro, então agora é a minha vez de ter a minha. Vamos la! Não, ela não é pequena. Ah, se comparada ao enorme quadro que esta na frente dela qualquer pintura fica pequena e, ja que tudo na vida depende de um referencial, a Monalisa é, eu diria, comov

Brioche Dorée

Uma boulangerie muito francesa. Pensei : vou me dar o luxo de pedir uma baguete e comer sur place (no local, ou seja, sai mais caro), sò para poder apreciar um ambiente francês e sentir um pouco mais da cultura local. Quando adentro ao recinto, apressada por retirar toda a roupa que me sufoca, qual é a mùsica que escuto ser a trilha sonora da minha baguete ? Under my umbrella ê ê ê Under my umbrella… “Je suis désolée” seria pouco.

Art Nouveau

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Une nouvelle exposition au Musée d’Orsay m’a fait penser au significat de l’art. Une gare peut devenir un musée, une salle à diner peut être transportée partout et une femme peut être une table. Tout à manger. On dit que l’art des années 70 nous a fait réfléchir sur la création psychédélique et surréaliste, on la met dans une galerie connue, au centre de Paris, et voilà, l’art nouveau ! Mais bien sûre que le plus impressionnant est encore le beau et vieil Impressionnisme. Il faut se déplacer pendant des heures avant les œuvres du d’Orsay.

Une pluie à Paris

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Le soleil se couche ; J’arrive ! Il pleut… Je ris et je pleure en même temps. Toujours. C’est pourquoi il y a un coucher du soleil pluvieux ici. Tout est possible à Paris !

With birds I'll share...

Sonhar com o voo. Estudar. Economizar alguns presentes de aniversário. Ler . Ler muito. Despertar a vontade de descobrir o desconhecido. Outrar-se no próprio personagem estrangeiro. Planejar aquilo que está ao alcance dos pés. E dos olhos. Ampliar um horizonte. Caminhar rumo ao tão sonhado sonho. Encarar os medos. Sentir-se incapaz de aprender a conviver com a doce solidão. Enfrentar o receio de entregar-se ao mundo. Viajar para encontrar-se, reconhecer-se em outros olhares e perder-se de si. Nunca saber quem é. Vontade que supera o medo. Planejar cada detalhe como se fosse realmente acontecer, mesmo à mercê do inevitável destino . Desejo incontrolável de espalhar-se por aí, ter a sensação de abraçar o mundo, fotografá-lo com os próprios olhos. Comprar passagens. Ida e volta. Calcular a quantidade de expectativas que podem caber em uma só pessoa. Controlar a ansiedade para que ela não controle. E controlar gastos também. 56 dias de uma existência plena e perpétua. Surpreend

Sustenida no ar

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— Vamos! A noite está tão agradável. Ele segurou-lhe a mão como se pudesse prever o seu medo de escuro. Aliás, não era a escuridão que lhe apavorava e, sim, o fato dele testemunhar uma fragilidade sua mais obscura do que a noite. Não lhe era comum ter uma companhia tão singela. Silenciaram. Davam passos curtos na areia, contemplavam estrelas, encantavam-se com o ruído do mar. E por que você está aqui? Por que estamos assim? Não me sinto bem. Não me sinto eu. Quero-me de volta. Devolva-me! — Você me faz pensar em cada coisa... Deu-lhe um beijo terno e começaram a cantar. [ If I could really sing (to you): Uninvited , Alanis Morissette ]