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Mostrando postagens de abril, 2010

Sobre os escritos no meio do caminho

Gosto de pessoas que escrevem bem porque, para atingirem tamanha proeza significa que, além de terem passado por experiências marcantes (que mudam a própria vida e podem, também, mudar a do outro), elas leem. E leem muito. E eu gosto de pessoas que leem porque elas são perigosas. O perigo está na desconstrução de limites, quando a imaginação torna-se um ideal mais paupável que uma ideologia qualquer. E essas pessoas, ah, como eu me identifico com elas! Vivem tudo o que podem viver, mas quando não conseguem atingir tamanha intensidade, elas simplesmente imaginam um texto, um texto da vida. Então basta escrevê-lo para continuar vivendo e, mais do que isso, compartilhar um pedaço de suas vidas com os outros muitos curiosos que têm sede de mundo.

Apenas um fim

Escovou os dentes como nunca escovara antes. Olhava atentamente, talvez pela primeira vez, para a única parte óssea externa em seu corpo. Fazia força, comprimia a escova como se quisesse desgastar as cerdas todas por completo. Seria a última vez que escovaria os dentes ali, olhando-se naquele espelho. O que ela tanto sonhara em ter – e teve – seria, agora, parte do passado. Um passado que ela deixaria fisicamente para trás – não havia escolha – mas que nunca deixaria de fazer parte dela. Queria ter a satisfatória sensação de ter vivido tudo o que lhe coube, intensamente, condensada naquele último instante em que aprendera a escovar os dentes, e só. Havia apenas uma última pitada de pasta, então pressionou o tubo com toda a força que podia juntar entre as pontas dos dedos para gastar aquele restinho de pasta de dente que hesitava em sair. E hesitava porque, depois de gasta, se nada sobrasse, viraria lixo, seria descartada, junto com a escova de cerdas gastas, e não poderia mais fazer pa

Da minha vontade de desbravar o Leste Europeu

Terei eu nascido para me tornar uma carpideira? Quero cantar os festins Os bosques alegres nos quais nos introduzia Shakespeare Deixai Aos poetas um instante de alegria Senão vosso mundo perecerá (Czeslaw Milosz, poeta e ensaísta polonês)

Chez Polaert

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O caminho para a saudade.