mea-culpa

Peço minhas mais sinceras desculpas. Desculpa pela intolerância, pelo preconceito, pela segregação. Desculpa por nossa sociedade não ter evoluído, por achar que somos diferentes e por não aceitar as diferenças. Desculpa por rir de piadas que passam do tom e humilham vocês e por compará-los com “animaizinhos”, por estereotipá-los. Desculpa por ser covarde, por não lutar por vocês, por não combater o preconceito todos os dias, como deveria ser.

Hoje só sinto vergonha. Vergonha por fazer parte de uma sociedade que tolera e propaga a violência contra vocês. Vergonha por viver em um mundo onde o discurso de ódio impera, a religião legitima mortes e vocês precisam se esconder. Tenho vergonha de ser classificada como “heterossexual” e receber alguma vantagem por isso (assim como recebo por ser branca, ou de classe média), vergonha de conhecer pessoas que se orgulham por ser hétero e de me enquadrar em grupos com essa mesma ideologia.

Ontem foram 50 em Orlando, mas quantos não foram hoje? Quantos não são agredidos por dia, por hora? Fisicamente, verbalmente, implicitamente, nas brincadeiras, nas rodas de conversa, nos almoços de família, nas redes sociais.

O mundo errou e continua errando. Errou em não ensinar nossos filhos que pessoas são pessoas e é nosso dever respeitá-las independentemente de cor, credo, orientação sexual, etnia, posição política, classe social e até time de futebol. Errou em permitir que o preconceito nasça, cresça, se propague e nunca morra. Errou em aceitar a violência, a intolerância, a morte. Errou em ficar indiferente às injustiças e impor um único modo de amar. Errou em reforçar o padrão “cristão-branco-heteronormativo-patriarcal”. Errou e continua errando porque é feito, também, de pessoas fracas e covardes!

Somos culpados em omitir, ignorar, relevar, negligenciar e nos calar.

Peço, por favor, que vocês não se sintam mal pelo que são. Não se sintam culpados por serem levados a duvidar do que são. Não se sintam “diferentes”. Por favor, não se matem! O erro é da sociedade, não de vocês.

E eu sei que essas desculpas não valem muito. Eu nem sei se as aceitaria se fossem para mim. Provavelmente eu reagiria com violência e revolta; mas vocês, muito sabiamente, respondem com amor, com respeito, com tolerância. Isso é ainda mais nobre, porque demonstra o quão evoluídos vocês são e o quanto todos nós precisamos uns dos outros para aprender a conviver com as diferenças.


Se pudesse, eu mudaria o mundo para vocês.



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